Não se engane — se você está realmente disposto a tentar atender a todas as exigências que se impõem ao seu ser natural, saiba que não lhe restará o suficiente para continuar vivendo. Quanto mais você obedecer à sua consciência, tanto mais ela lhe cobrará. E o seu ser natural, continuamente submetido a fome, aos aborrecimentos e aos tormentos, vai se irar cada vez mais. No final, ou você desistirá de tentar ser bom ou se tornará uma daquelas pessoas que, como se costuma dizer, "vivem para os outros", mas sempre de modo descontente e resmungão — sempre a se perguntar por que os outros não reparam nelas e sempre fazendo-se de mártires. E, quando isso acontecer, será um estorvo muito maior para os que tiverem de conviver com você do que seria se tivesse permanecido explicitamente egoísta desde o princípio.
A via cristã é diferente: é mais difícil e é mais fácil. Cristo diz: "Quero tudo o que é seu. Não quero uma parte do seu tempo, uma parte do seu dinheiro e uma parte do seu trabalho: quero você. Não vim para atormentar o seu ser natural, vim para matá-lo. As meias-medidas não me bastam. Não quero cortar um ramo aqui e outro ali; quero abater a árvore inteira. Não quero raspar, revestir ou obturar o dente; quero arrancá-lo. Entregue-me todo o ser natural, não só os desejos que lhe parecem maus, mas também os que se afiguram inocentes - o aparato inteiro. Em lugar dele, dar-lhe-ei um ser novo. Na verdade, dar-lhe-ei a mim mesmo: o que é meu se tornará seu."