quarta-feira, 11 de abril de 2012

Excertos de A.W.Tozer - A Adoração: Jóia Ausente na Igreja Evangélica


Por que Cristo veio? Por que foi concebido? Por que nasceu? Por que foi crucificado? Por que ressuscitou? Por que está agora à destra do Pai?

A resposta a todas essas perguntas é: "Para que pudesse trans­formar os rebeldes em adoradores; para que nos restaurasse, fazen­do-nos voltar ao lugar de adoração que conhecemos quando fomos criados no princípio".
Por termos sido criados para adorar, a adoração é a ocupação normal dos seres morais. Trata-se da ocupação norma! e não de algo acrescentado, como ouvir a um concerto ou admirar as flores. A adoração faz parte da natureza humana. Todo vislumbre do céu os mostra em atitude de adoração: Ezequiel 1:1-5, as criaturas saídas do fogo estavam adorando Deus; Isaías 6:1-6, vemos o Senhor sen­tado num alto e sublime trono e ouvimos as criaturas dizendo: "Santo, santo, santo, é o Senhor dos Exércitos"; Apocalipse 4:8-11, Deus abre os céus e as vemos ali, adorando Deus Pai; e no quinto capítulo, versos 6 a 14, nós as vemos adorando Deus Filho.

A adoração é um imperativo moral. Em Lucas 19:37-40, toda multidão dos discípulos se achava adorando o Senhor quando Ele veio e alguns fizeram censuras. O Senhor lhes disse: "Asseguro-vos que. se eles se calarem, as próprias pedras clamarão".

A adoração é porém a jóia ausente no meio evangélico moderno. Somos organizados, trabalhamos, temos nossos compromissos. Te­mos quase tudo, mas existe uma coisa que as igrejas, até mesmo as evangélicas não têm: a capacidade para adorar, Não estamos culti­vando a arte da adoração. Essa é a gema brilhante que falta na igreja de hoje, e acredito que devamos procurá-la até que possa ser encontrada.

Acho que devo estender-me mais um pouco sobre o que é a adoração e o que seria se existisse na igreja, É uma atitude, um estado de mente, um ato sujeito a graus de perfeição e intensidade. No momento em que Deus envia o Espírito de seu Filho aos nossos corações, dizemos "Abba" e estamos adorando. Esse é um lado. Mas muito diferente é sermos adoradores no pleno sentido da palavra no Novo Testamento.

Eu disse que a adoração é sujeita a graus de perfeição e inten­sidade. Houve alguns que adoraram a Deus até o ponto do êxtase. Vi certa vez um homem ajoelhar-se junto ao altar, tomando a comu­nhão; de repente foi tomado de um riso santo. Esse homem riu até cruzar os braços ao redor de si mesmo, como se temesse explodir de gozo na presença do Deus Altíssimo. Outras vezes vi pessoas em tal êxtase de adoração que se sentiam arrebatadas por ela, e ouvi certos convertidos de coração simples dizerem, "Abba Pai". A adoração pode então passar por uma escala, dos sentimentos mais simples até os mais intensos e sublimes.

Quais são os fatores que iremos encontrar na adoração? Vou falar de alguns, à medida que escrevo. Em primeiro lugar a confiança ilimitada. Você não pode adorar um Ser em quem não confie. A con­fiança é necessária para haver respeito, e o respeito é necessário pa­ra a adoração. A adoração cresce ou diminui em qualquer igreja, dependendo de nossa atitude para com Deus, se o consideramos gran­de ou pequeno. A maioria de nós vê Deus em ponto pequeno; nosso Deus é diminuto. Davi exclamou: ''Magnificai a Deus comigo" e "magnificar" não significa tornar Deus grande, pois você não pode fazer isso. O que pode fazer é vê-lo grande.

A adoração, como disse, cresce ou diminui segundo o nosso conceito de Deus. Essa a razão pela qual não creio nesses indivíduos meio-convertidos que chamam Deus de "o Homem Lá de Cima". Não acredito que adorem de forma alguma, pois o seu conceito de Deus é indigno dEle e deles também. Se existe uma enfermidade terrível na igreja de Cristo é a de não vermos Deus tão grande como ele é. Nós tratamos Deus com excesso de familiaridade.

A comunhão com Deus é uma coisa, e a familiaridade com ele outra absolutamente diversa. Não gosto nem mesmo (e isto poderá ferir alguns de seus sentimentos — mas eles irão ficar bons de no­vo) de ouvir Deus chamado de "Você". "Você" é uma expressão coloquial. Posso chamar um homem de "você", mas devo chamar Deus de "Senhor", "Tu" e "Ti". Sei que são palavras antigas, mas sei também que existem algumas coisas tão preciosas que não deve­mos abandoná-las e acho que ao falarmos com Deus devemos usar os pronomes puros e respeitosos.

Também acho que não devemos falar muito de Jesus como sim­plesmente Jesus. Penso que temos de lembrar-nos de quem Ele é. "Ele é seu Senhor, e é preciso adorá-lo". Embora Ele desça ao ponto mais baixo de nossa necessidade e se torne acessível a nós, com a ternura da mãe para com seu filho, não se esqueça porém que quan­do João o viu — aquele João que reclinara a cabeça em seu peito caiu aos pés dEle como morto.

Já ouvi toda espécie de pregadores. Ouvi ignorantes presunço­sos, homens aborrecidos e secos, assim como oradores eloqüentes; mas os que mais me ajudaram foram aqueles que se mostraram re­verentes na presença do Deus de quem falavam. Poderiam ter senso de humor, mostrando-se até mesmo joviais; mas quando falavam de Deus sua voz tinha outro tom; tratavam agora de outra coisa, algo maravilhoso. Acredito que devamos ter novamente o velho conceito bíblico de Deus que torna Deus terrível e faz os homens se prostrarem, gritando: "Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso". Is­so faria mais pela igreja do que qualquer coisa.

Vem a seguir a admiração, isto é, a apreciação da excelência de Deus. O homem está melhor qualificado do que qualquer outra criatura a apreciar Deus, por ter sido a única criatura feita à sua imagem, Esta admiração por Deus cresce cada vez mais até encher o coração com admiração e prazer. "Em nossa reverência atônita con­fessamos Tua beleza incriada", cantou o escritor de hinos. "Em nossa reverência atônita". O Deus do evangélico moderno raramente deixa alguém atônito. Ele consegue manter-se muito bem dentro da cons­tituição, jamais quebrando nossos regulamentos internos. É um Deus bem comportado, muito denominacional, muito integrado em nosso meio, e lhe pedimos que nos ajude quando temos dificuldades e esperamos que nos guarde quando dormimos. O Deus do evangélico moderno não me inspira muito respeito. Mas quando o Espírito Santo nos mostra Deus como Ele é, nós O admiramos até o ponto de encher-nos de espanto e prazer.

A fascinação é um outro elemento na verdadeira adoração. Sentir-se cheio de excitação moral, cativo, enlevado e arrebatado. O seu entusiasmo não está ligado com a idéia de quão grande você está se tornando, nem como a oferta foi grande, nem com o número de pessoas que compareceu ao culto. Mas você se enleva com a noção de quem Deus é, e fica atônito diante da inconcebível elevação, mag­nitude e esplendor do Deus Todo-Poderoso.

Lembro-me da primeira vez que tive uma visão de Deus, terrí­vel, maravilhosa, arrebatadora. Eu me achava numa floresta, sentado num tronco, lendo as Escrituras junto com um evangelista irlandês, já idoso, chamado Robert J. Cunningham, que há muito se acha no céu. Levantei-me e segui um pouco adiante, a fim de orar sozinho. Eu estivera lendo uma das passagens mais áridas que se possa imaginar — aquele trecho em que Israel saiu do Egito e Deus os fez dispor o acampamento na forma de um losango. Colocou Levi no centro, Rúben na frente e Benjamim atrás. Era como uma cidade em movimento, na forma de losango, com uma chama de fogo em seu meio, fornecendo luz. De repente pude compreender: Deus é um geômetra. Ele é um artista! Quando Ele dispôs aquela cidade, planejou-a habilmente com uma coluna no centro, e esses pensamentos vieram sobre mim como uma enorme onda: como Deus é belo, Ele é um artista, poeta e músico, e adorei a Deus ali, debaixo daquela árvore, sozinho. A partir daquele momento comecei a amar os velhos hinos e continuo a amá-los até hoje.

Temos depois a adoração, amar a Deus com todo poder em nosso íntimo. Amar a Deus com temor e espanto, desejo e reverência. Ansiar por Deus, amá-lo até o ponto de sentir dor e prazer. Isto nos leva a um silêncio empolgado. Penso que as maiores orações são aquelas onde você não diz uma palavra nem pede nada. Deus porém responde e nos dá o que pedimos. Isso é claro, e ninguém pode negar tal coisa a não ser que negue as Escrituras. Mas esse é apenas um dos aspectos da oração, não sendo nem mesmo o mais impor­tante. Algumas vezes me dirijo a Deus dizendo: "Senhor, mesmo que nunca mais responda a nenhuma de minhas orações enquanto eu viver, continuarei ainda assim a adorá-lO, tanto nesta vida como na vindoura, por aquilo que o Senhor já fez". Já devo tanto a Deus que mesmo que vivesse durante milênios e milênios jamais poderia pagar-lhe o que fez por mim.

Vamos a Deus como iríamos ao supermercado com uma longa lista de coisas a serem compradas. "Deus, dê-me isto, isto, e isto," e nosso Deus gracioso freqüentemente nos dá o que pedimos. Mas penso que fica desapontado quando fazemos dele apenas uma fonte de atendimento. Até o Senhor Jesus é com demasiada freqüência apresentado como "Alguém que suprirá as suas necessidades". Esse é o núcleo do evangelismo moderno. Você tem necessidades e Jesus irá satisfazê-las. Ele é o Supridor das Necessidades. De fato, Ele é também isso, mas, ah, infinitamente mais que isso!

Quando os fatores mentais, emocionais e espirituais de que falei estiverem presentes e, como admiti, em vários graus da intensidade, através de cânticos, louvor, oração, você está adorando. Você sabe o que é oração mental? Estou querendo saber se você tem idéia do que seja orar continuamente. O irmão Lawrence, que escreveu o livro The Practice of the Presence of God ("A Prática da Presença de Deus"), disse: "Se estiver lavando pratos, faço isso para a glória de Deus e se apanho um fiapo do chão também o faço para a glória de Deus. Estou todo o tempo em comunhão com Deus". Ele conti­nuou. "As regras me dizem que tenho de tomar tempo para estar sozinho e orar, e cumpro esse mandamento, mas esses períodos não são em nada diferentes de minha comunhão regular". Ele aprendera a arte da comunicação com Deus, contínua e ininterrupta.

Temo pelo pregador que sobe ao púlpito como uma pessoa dife­rente do que era antes. Meu amigo, você jamais deveria ter um pensamento, praticar um ato ou ser apanhado em qualquer situação que não pudesse levar consigo para o púlpito sem sentir-se embara­çado. Você jamais deveria precisar ser um novo homem, usar uma nova voz e um novo senso de solenidade ao subir ao púlpito.

Deve poder apresentar-se no púlpito com o mesmo espírito e o mesmo senso de reverência que tinha antes quando estava falando com alguém sobre as coisas corriqueiras da vida. Moisés desceu do monte para falar ao povo. Ai da igreja cujo pastor sobe ao púlpito ou entra no púlpito! Ele deve sempre descer ao púlpito. Conta-se que Wesley habitualmente morava com Deus, mas de vez em quando descia para falar ao povo. O mesmo deve acontecer conosco. Amém.

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