quarta-feira, 30 de maio de 2012

Excertos de A.W.Tozer - Os milagres seguem o arado

Arai o campo virgem; porque é tempo de buscar ao Senhor, até que ele venha e chova a justiça sobre vós. Os 10: 12 


Vemos aqui dois tipos de solo: o solo duro ou virgem e aquele que foi amaciado pelo arado......
O solo duro é convencido, complacente, protegido dos golpes do arado e da agitação pela grade. Um campo assim, abandonado ano após ano, acaba tornando-se a habitação do corvo e do gaio. Se tivesse inteligência, poderia ter em alta conta a sua reputação; possui estabi­lidade; a natureza adotou-o; pode ser tomado como certo que conti­nuará sempre o mesmo,' enquanto os campos que o rodeiam mudam de marrom para verde e de verde para marrom de novo. Seguro e tranqüilo, ele se espalha preguiçosamente ao sol, um verdadeiro retrato da satisfação sonolenta. Mas o preço que paga pela sua tran­qüilidade é terrível: pois ele não vê o milagre do crescimento; não sente os movimentos da vida em crescendo nem aprecia os prodígios da semente brotando ou a beleza do grão que amadurece. Jamais pode conhecer fruto porque teme o arado e a grade. 

Em oposição direta a isto, o campo cultivado entregou-se à aventura de viver. A cerca protetora abriu-se para dar entrada ao arado, e este veio como todos eles vêm, prático, cruel, apressado. A paz foi quebrada pelos gritos do fazendeiro e o ruído das máquinas. O campo sentiu o labor da mudança; foi perturbado, revolvido, ferido e que­brado, mas suas recompensas valem o sofrimento a que se submeteu. A semente manifesta à luz do dia seu milagre de vida, curiosa, explorando o mundo à sua volta. Em todo o campo a mão de Deus está operando no serviço da criação, velho como o tempo e sempre renovado. Novas coisas nascem, crescem, amadurecem e realizam a grande profecia latente no grão quando foi colocado no solo. Os prodí­gios da natureza seguem o arado. 

Há também duas espécies de vida: a dura e a arada. Para obter exemplos de uma vida endurecida não precisamos ir longe. Existem muitas ao nosso redor. 

O homem de vida endurecida está contente consigo mesmo e com o fruto que produziu no passado. Não quer que o incomodem. Sorri com superioridade quando ouve falar de reavivamentos, jejuns, auto-análises, e todas as tarefas ligadas à produção de frutos e à angústia do crescimento. O espírito de aventura morreu nele. É está­vel, "fiel", sempre em seu lugar costumeiro (como o velho campo), conservador e uma espécie de marco na pequena igreja. Mas é estéril. A maldição de uma vida assim é o fato de ser fixa, tanto em tama­nho como em conteúdo. Ser tomou o lugar de tornar-se. O pior que pode ser dito de tal indivíduo é que é o que irá ser. Ele encerrou-se entre quatro paredes e, através desse mesmo ato, deixou Deus do lado de fora e também o milagre. 

A vida arada é aquela que, no ato do arrependimento, derrubou as cercas protetoras e enviou o arado da confissão à alma. O estí­mulo do Espírito, a pressão das circunstâncias e a angústia por uma vida sem frutos, combinaram-se para humilhar o coração. Uma vida assim abaixou as suas defesas, e abandonou a segurança da morte pelo perigo da vida. O descontentamento, a ansiedade, a contrição, a obediência corajosa à vontade de Deus: feriram e quebraram o solo até que esteja novamente preparado para a sementeira. E, como sem­pre, o fruto segue o arado. A vida e o crescimento começam à medida que Deus faz "chover justiça". Uma pessoa assim pode teste­munhar: "E a mão do Senhor estava sobre mim." 

Em toda denominação, sociedade missionária, igreja local ou cristão individual, vemos esta lei em operação. Deus opera quando seus filhos vivem ousadamente. Ele se interrompe quando não há mais necessidade de sua ajuda. No momento em que buscamos pro­teção fora de Deus, nós a encontramos em prejuízo próprio. No mo­mento em que construímos uma parede de segurança feita de doações, leis secundárias, prestígio, múltiplos agentes para a delegação de nos­sos deveres, a paralisia se introduz imediatamente, uma paralisia que só pode terminar em morte. 

O poder de Deus só vem atendendo ao apelo do arado Ele só é liberado na igreja quando ela estiver fazendo algo que necessite do mesmo. Com a palavra "fazendo" não quero indicar simples ativi­dade. Já existe excesso de "movimento" nela, mas com todas essas atividades ela cuida para manter intocado o campo endurecido. Ela toma precauções para confirmar sua movimentação, dentre dos limi­tes da completa segurança. Essa a razão pela qual é estéril, não dá fruto. Está segura, mas amadurecida. 

Olhe à sua volta e veja os milagres de poder que estão tendo lugar, veja onde eles se realizam. Não é no seminário onde cada pensamento é preparado para o aluno, sendo recebido sem esforço e de segunda mão; não é na instituição religiosa onde a tradição e o hábito tornaram a fé desnecessária; não é na velha igreja onde placas memoriais são colocadas sobre os móveis, prestando um testemunho silencioso quanto a glória que já se foi. Onde a fé destemida está lutando para avançar contra toda e qualquer oposição, Deus inva­riavelmente se encontra junto a ela, enviando "ajuda do santuário". 

Estou porém mais preocupado com o efeito desta verdade na igreja local e no indivíduo. Olhe para aquela igreja onde a abundân­cia de fruto era antes a coisa regular e esperada, mas agora ele é pouco ou nenhum, e o poder de Deus parece estar em suspenso. Qual o problema? Deus não mudou, nem o seu propósito para essa igreja modificou-se de forma alguma. Nada disso, foi a igreja que mudou. 

Uma auto-análise breve revelará que tanto ele como seus mem­bros endureceram. Ela viveu e trabalhou, mas aceitou agora um estilo de vida mais fácil. Contenta-se com realizar seu programa sem demasiado esforço, com dinheiro suficiente para pagar suas contas e um número de membros bastante grande para assegurar seu futuro. Os membros esperam dela agora segurança em vez de orientação na batalha entre o bem e o mal. Ela se tornou uma escola em lugar de um acampamento. Seus membros são estudantes e não soldados. Eles estudam as experiências de outros em lugar de buscar novas expe­riências por si mesmos. 

O único caminho para o poder em tal igreja é sair do esconderijo e mais uma vez tomar o caminho cheio de perigos da obediência. A sua segurança é o seu maior inimigo. A igreja que teme o arado escreve o seu próprio epitáfio: a igreja que usa o arado anda pelo caminho do reavivamento. 


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