O julgamento de Deus
Foi o velho pregador rural,
Vance Havner, que disse, certa vez:
"Se Deus tratasse as
pessoas, hoje, como um dia tratou Ananias e Safira, todas as igrejas
precisariam manter um necrotério no porão."
Essa declaração leva muitas
pessoas a sorrir. Eu não sorrio. Ponho-me a pensar... a imaginar o porquê. Na
verdade, já colecionei várias perguntas tipo "por quê?" concernentes
ao julgamento de Deus. Por que o julgamento divino não é mais óbvio nas vidas
das pessoas que deliberada e voluntariamente desobedecem a Deus?
Por que o
Senhor não age com rapidez e severidade, visto que a santidade de Deus está
sendo maculada, e sua reputação posta em jogo? Por que é que Deus não cumpre
sua promessa cada vez que resistimos à tentação de pagar o mal com o mal...
especialmente porque ele repete essa promessa tantas vezes nas Escrituras:
"A mim me pertencem a vingança e a recompensa"? diz o Senhor
(Deuteronômio 32:35; Romanos 12:17-19; Hebreus 10:30).
A referência em Hebreus chega
até a concluir assim: "O Senhor julgará o seu povo." Perdoe-me se lhe
pareço cruel e severo, mas minha preocupação é: quando? Onde estão os exemplos
de Ananias e Safira de hoje, quando os crentes fraudam outros crentes? Por que
não há mais crentes entre nós fracos e doentes... e por que na verdade mais
deles não morrem (!) como acontecia na congregação dos coríntios, quando esses
crentes deixavam de considerar as coisas de Deus com seriedade (1 Coríntios
10:30)? Se Ananias e Safira não conseguiram que o Senhor lhes perdoasse um
único ato de hipocrisia, como é que hoje as pessoas podem mentir, fraudar,
roubar, adulterar e, em seguida, prosseguir com a vida, como se tudo isso fosse
prática normal, usual? E já que estamos tratando desse assunto, se 1 Coríntios
5:11 faz parte das Escrituras, que é que nos torna hesitantes em obedecer à
prescrição?
"... mas agora vos
escrevo que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou
avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador. Com o tal nem
ainda comais."
Sim, é citação direta... em
contexto... corretamente traduzida do texto grego. Eu mesmo verifiquei. Se
significa alguma coisa, é isto: o isolamento é uma das conseqüências quando o
crente adota um modo de vida anti-bíblico. Tomado literalmente, o texto ordena
a todos quantos se nomeiam pelo nome de Cristo que se recusem a aliviar a
solidão do crente carnal. Até mesmo os membros da família devem cooperar com o
isolamento ordenado por Deus, até que haja arrependimento.
As implicações de Paulo
(contrária à opinião popular) é a seguinte: Quando nos recusamos a
associar-nos, ou a comer com pessoas que levam vidas comprometedoras,
irresponsáveis, imorais, o julgamento de Deus — a vingança divina — passa a
ocorrer. Podemos ter certeza disso! E é aí que surge o enguiço. Muitas vezes,
assim nos parece, a vingança divina não ocorre. Posso mencionar caso após caso
em que o julgamento de Deus não sobreveio. E falo com toda a franqueza: estou
me debatendo com isso. Se Deus é santo (e eu sei que ele é), se ele abomina o
pecado (e eu sei que ele o abomina) e se ele tem ciúmes de sua igreja, para que
ela se mantenha uma noiva pura (sim, isso também é verdade), onde está a prova?
Para sermos dolorosamente específicos, por que é que um crente após outro
desencaminham-se de seus respectivos casamentos, em pecado, sem que lhes
sobrevenha algum sinal de vingança divina aberta? Ou, como é que os crentes
chegam à conclusão que o homossexualismo é aceitável, praticando-o em seguida,
sem sofrer o julgamento que recaiu sobre os sodomitas que viveram nas duas
cidades gêmeas da antigüidade, Sodoma e Gomorra? Era errado naquela época, mas
certo hoje?
Eu sei qual é a resposta
celestial para estas perguntas, mas onde está a prova terrena? É certo que Deus
sabe que a ausência de disciplina divina está sendo usada contra ele! E isso me
deixa furioso. E triste. E um bocado confuso. Especialmente quando estou
tratando de um caso de infidelidade marital, e o cônjuge que permaneceu fiel (e
fez o máximo possível para que o casamento funcionasse) me olha e pergunta, com
toda a sinceridade: "Por que é que o Senhor permitiu que meu cônjuge
saísse ileso dessa traição?" O Senhor deixa uma porção de crentes como nós
imaginando coisas, e não apenas umas poucas pessoas apanhando os frangalhos.
De todo meu coração concordo
com o salmista: "Já é tempo, de operares, ó Senhor; têm quebrado a tua
lei" (Salmo 119:126). Acredito que se Deus agisse tão decisivamente como o
fazia com freqüência nos tempos bíblicos, mudanças maravilhosas ocorreriam em
toda a cristandade. Um sadio temor do Senhor voltaria outra vez a eletrizar o
povo de Deus, ao mesmo tempo em que voltaria o respeito devido ao seu santo
nome. Uma caminhada obediente se tornaria evidente entre nós. Além disso, uma
renovada determinação no sentido de respeitar os votos matrimoniais haveria de
solidificar os lares. Uma Noiva mais pura, dotada de caráter genuíno,
inestimável em seu valor, estaria esperando pelo Noivo.
Porventura não é hora de
orarmos mais ousada e fervorosamente? Porventura não é bem apropriado que
atentemos detidamente para a advertência de Pedro:"... é tempo que comece
o julgamento pela casa de Deus..." (1 Pedro 4:17)? Sim, penso que é. Na
verdade, vejo todas as razões possíveis por que devamos pedir ao Senhor que
aja depressa, com severidade se necessário, de modo significativo o suficiente
para assegurar a atenção de todos, inclusive as pessoas que agora mesmo estão
brincando com a idéia de cair.
Li na semana passada a
respeito de um casal (vamos chamá-los de Carlos e Clara), cujo casamento de
vinte e cinco anos era excelente. Não idílico, mas muito bom. Tinham três
filhos adultos que os amavam ternamente. Além disso, haviam sido abençoados
financeiramente, de modo a permitir-se sonhar com uma casa de campo, à beira de
um lindo lago, na aposentadoria. Começaram a procurar uma casa assim. Um
viúvo, a quem chamaremos de Benjamim, estava vendendo a sua. O casal gostou da
casa dele — e bastante. Voltaram para casa para fazer planos. Passaram-se os
meses.
Há pouco tempo, sem mais nem
menos, Clara disse a Carlos que queria o divórcio. Ele ficou aturdidíssimo.
Depois de todos esses anos? Por quê? E como é que ela podia enganá-lo... como é
que ela poderia estar nutrindo essa traição, enquanto estavam procurando uma
casa onde gozar a aposentadoria? Ela lhe asseverou que não estivera tendo um
caso, que não fizera nada. Na verdade, tratava-se de uma decisão muito recente,
agora que ela havia encontrado outro homem. Quem? Clara admitiu que era
Benjamim, o dono da casa em perspectiva, com quem ela se encontrara inadvertidamente
algumas semanas após haverem conversado sobre a transação imobiliária.
Começaram a sair juntos. Visto estarem, nesse momento, "apaixonados",
não havia como voltar atrás. Nem os próprios filhos, que odiaram a idéia toda,
conseguiram dissuadir a mãe.
No dia em que ela deveria ir
embora, Carlos atravessou a cozinha, na direção da garagem. Percebendo que ela
teria partido quando ele voltasse, murmurou hesitante:
— Bem, querida, acho que esta
é a última vez...
A voz se lhe sumiu, enquanto
prorrompia em soluços. Ela saiu constrangida, apanhou apressadamente suas
coisas, e partiu de carro ao encontro de Benjamim. Menos de duas semanas depois
de ela ter-se mudado para ir morar com Benjamim, seu amante, Carlos foi
acometido de um ataque cardíaco. Ficou em estado de coma durante algumas
horas... e finalmente morreu.
É hora de nosso Deus
santíssimo agir. Sim, e que ele o faça de modo significativo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário