quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Excertos de Charles Swindoll - A Busca do Caráter


O julgamento de Deus

Foi o velho pregador rural, Vance Havner, que disse, certa vez:
"Se Deus tratasse as pessoas, hoje, como um dia tratou Ananias e Safira, todas as igrejas precisariam manter um ne­crotério no porão."
Essa declaração leva muitas pessoas a sorrir. Eu não sorrio. Ponho-me a pensar... a imaginar o porquê. Na verdade, já co­lecionei várias perguntas tipo "por quê?" concernentes ao jul­gamento de Deus. Por que o julgamento divino não é mais óbvio nas vidas das pessoas que deliberada e voluntariamente desobedecem a Deus?
Por que o Senhor não age com rapidez e severidade, visto que a santidade de Deus está sendo ma­culada, e sua reputação posta em jogo? Por que é que Deus não cumpre sua promessa cada vez que resistimos à tentação de pagar o mal com o mal... especialmente porque ele repete essa promessa tantas vezes nas Escrituras: "A mim me perten­cem a vingança e a recompensa"? diz o Senhor (Deuteronômio 32:35; Romanos 12:17-19; Hebreus 10:30).
A referência em Hebreus chega até a concluir assim: "O Senhor julgará o seu povo." Perdoe-me se lhe pareço cruel e severo, mas minha preocupação é: quando? Onde estão os exemplos de Ananias e Safira de hoje, quando os crentes frau­dam outros crentes? Por que não há mais crentes entre nós fracos e doentes... e por que na verdade mais deles não morrem (!) como acontecia na congregação dos coríntios, quando esses crentes deixavam de considerar as coisas de Deus com serie­dade (1 Coríntios 10:30)? Se Ananias e Safira não conseguiram que o Senhor lhes perdoasse um único ato de hipocrisia, como é que hoje as pessoas podem mentir, fraudar, roubar, adulterar e, em seguida, prosseguir com a vida, como se tudo isso fosse prática normal, usual? E já que estamos tratando desse assunto, se 1 Coríntios 5:11 faz parte das Escrituras, que é que nos torna hesitantes em obedecer à prescrição?

"... mas agora vos escrevo que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador. Com o tal nem ainda comais."

Sim, é citação direta... em contexto... corretamente traduzida do texto grego. Eu mesmo verifiquei. Se significa alguma coisa, é isto: o isolamento é uma das conseqüências quando o crente adota um modo de vida anti-bíblico. Tomado literalmente, o texto ordena a todos quantos se nomeiam pelo nome de Cristo que se recusem a aliviar a solidão do crente carnal. Até mesmo os membros da família devem cooperar com o isolamento or­denado por Deus, até que haja arrependimento.
As implicações de Paulo (contrária à opinião popular) é a seguinte: Quando nos recusamos a associar-nos, ou a comer com pessoas que levam vidas comprometedoras, irresponsá­veis, imorais, o julgamento de Deus — a vingança divina — passa a ocorrer. Podemos ter certeza disso! E é aí que surge o enguiço. Muitas vezes, assim nos parece, a vingança divina não ocorre. Posso mencionar caso após caso em que o julga­mento de Deus não sobreveio. E falo com toda a franqueza: estou me debatendo com isso. Se Deus é santo (e eu sei que ele é), se ele abomina o pecado (e eu sei que ele o abomina) e se ele tem ciúmes de sua igreja, para que ela se mantenha uma noiva pura (sim, isso também é verdade), onde está a prova? Para sermos dolorosamente específicos, por que é que um crente após outro desencaminham-se de seus respectivos ca­samentos, em pecado, sem que lhes sobrevenha algum sinal de vingança divina aberta? Ou, como é que os crentes chegam à conclusão que o homossexualismo é aceitável, praticando-o em seguida, sem sofrer o julgamento que recaiu sobre os sodomitas que viveram nas duas cidades gêmeas da antigüidade, Sodoma e Gomorra? Era errado naquela época, mas certo hoje?
Eu sei qual é a resposta celestial para estas perguntas, mas onde está a prova terrena? É certo que Deus sabe que a ausência de disciplina divina está sendo usada contra ele! E isso me deixa furioso. E triste. E um bocado confuso. Especialmente quando estou tratando de um caso de infidelidade marital, e o cônjuge que permaneceu fiel (e fez o máximo possível para que o casamento funcionasse) me olha e pergunta, com toda a sinceridade: "Por que é que o Senhor permitiu que meu cônjuge saísse ileso dessa traição?" O Senhor deixa uma porção de crentes como nós imaginando coisas, e não apenas umas poucas pessoas apanhando os frangalhos.
De todo meu coração concordo com o salmista: "Já é tempo, de operares, ó Senhor; têm quebrado a tua lei" (Salmo 119:126). Acredito que se Deus agisse tão decisivamente como o fazia com freqüência nos tempos bíblicos, mudanças maravilhosas ocorreriam em toda a cristandade. Um sadio temor do Senhor voltaria outra vez a eletrizar o povo de Deus, ao mesmo tempo em que voltaria o respeito devido ao seu santo nome. Uma caminhada obediente se tornaria evidente entre nós. Além disso, uma renovada determinação no sentido de respeitar os votos matrimoniais haveria de solidificar os lares. Uma Noiva mais pura, dotada de caráter genuíno, inestimável em seu valor, estaria esperando pelo Noivo.
Porventura não é hora de orarmos mais ousada e fervoro­samente? Porventura não é bem apropriado que atentemos de­tidamente para a advertência de Pedro:"... é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus..." (1 Pedro 4:17)? Sim, penso que é. Na verdade, vejo todas as razões possíveis por que de­vamos pedir ao Senhor que aja depressa, com severidade se necessário, de modo significativo o suficiente para assegurar a atenção de todos, inclusive as pessoas que agora mesmo estão brincando com a idéia de cair.
Li na semana passada a respeito de um casal (vamos chamá-los de Carlos e Clara), cujo casamento de vinte e cinco anos era excelente. Não idílico, mas muito bom. Tinham três filhos adultos que os amavam ternamente. Além disso, haviam sido abençoados financeiramente, de modo a permitir-se sonhar com uma casa de campo, à beira de um lindo lago, na apo­sentadoria. Começaram a procurar uma casa assim. Um viúvo, a quem chamaremos de Benjamim, estava vendendo a sua. O casal gostou da casa dele — e bastante. Voltaram para casa para fazer planos. Passaram-se os meses.
Há pouco tempo, sem mais nem menos, Clara disse a Carlos que queria o divórcio. Ele ficou aturdidíssimo. Depois de todos esses anos? Por quê? E como é que ela podia enganá-lo... como é que ela poderia estar nutrindo essa traição, enquanto estavam procurando uma casa onde gozar a aposentadoria? Ela lhe asseverou que não estivera tendo um caso, que não fizera nada. Na verdade, tratava-se de uma decisão muito recente, agora que ela havia encontrado outro homem. Quem? Clara admitiu que era Benjamim, o dono da casa em perspectiva, com quem ela se encontrara inadvertidamente algumas semanas após ha­verem conversado sobre a transação imobiliária. Começaram a sair juntos. Visto estarem, nesse momento, "apaixonados", não havia como voltar atrás. Nem os próprios filhos, que odia­ram a idéia toda, conseguiram dissuadir a mãe.
No dia em que ela deveria ir embora, Carlos atravessou a cozinha, na direção da garagem. Percebendo que ela teria par­tido quando ele voltasse, murmurou hesitante:
— Bem, querida, acho que esta é a última vez...
A voz se lhe sumiu, enquanto prorrompia em soluços. Ela saiu constrangida, apanhou apressadamente suas coisas, e partiu de carro ao encontro de Benjamim. Menos de duas semanas depois de ela ter-se mudado para ir morar com Benjamim, seu amante, Carlos foi acometido de um ataque cardíaco. Ficou em estado de coma durante algumas horas... e finalmente morreu.
É hora de nosso Deus santíssimo agir. Sim, e que ele o faça de modo significativo.

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